domingo, 13 de novembro de 2016

A falência da infraestrutura rodoviária (parte 1/2)

Mesmo nos sentindo desconfortáveis em assumir que somos dependentes do sistema rodoviário, é inegável que precisamos dele para continuar com nossas inúmeras e sofridas tentativas de consolidar nossa economia num ambiente altamente desfavorável. E como lidamos com isso? Ora, se prestarmos bem atenção, veremos que nossas dificuldades e nosso desenvolvimento econômico se atrelam de forma bem expressiva a um sistema “inexpressivo”, do ponto de vista do avanço. É como querer colocar cinco litros de água num vasilhame de um litro.
infraestrutura-rodoviariaSomos um dos países que mais dependem de rodovias para o escoamento da produção e para o transporte de bens em geral, e não acredito nas estimativas divulgadas com frequência de que 60% dos nossos produtos seriam transportados no modal rodoviário. Esse percentual é bem maior. Temos no Brasil um mapa fluvial que causa inveja em muitos países, assim como nossa localização geográfica que favorece o transporte marítimo, uma longa extensão para diminuir custos com transporte ferroviário, entretanto, somos reféns de um modal poluidor, perigoso, caro, insuficiente e caótico, que não só nos tira competitividade como a vida de muitos brasileiros e que, mesmo assim, não recebe investimentos como deveria.
Está quentinha a 20ª edição da pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) sobre as rodovias brasileiras. Constitui um mapeamento muito interessante de 103.259 km, 48,8% do total de rodovias asfaltadas. Atualmente são 1.720.756 km de rodovias, mas apenas 12,3% ou 211.468 km são asfaltados. Chama atenção para o aumento dos custos de transportes, o avanço quase inexistente quando comparado com 2015 e para a comparação com as gestões privadas e públicas. O fato mesmo é que os números são alarmantes e nos dão a sensação de que estamos parados no tempo, sem um alento que nos mostre um sinal de melhoria realmente significativa diante das necessidades do mercado.
Realizada em pouco menos da metade das rodovias asfaltadas no país, contemplando a totalidade das BR´s e as principais vias estaduais, a pesquisa aponta que 58,2% dos trechos do estudo apresentam algum tipo de problema da ordem de qualidade do pavimento, da sinalização ou da geometria da via: metade do pavimento é regular, ruim ou péssimo; metade é mal sinalizada e 78% têm falhas geométricas. Devido à falta de manutenção preventiva e corretiva, do ano passado para cá, houve um aumento de 26,6% no número de pontos críticos (apenas os considerados graves). Isso representa um aumento médio de 25% nos custos operacionais do transporte, só devido aos buracos no pavimento, que nos piores trechos pode chegar a 91%, mas não há um custo estimado para cada situação das rodovias, pois há outros problemas em pontes, com erosões e da ordem de segurança das vias que são incomensuráveis.
O que o país investiu em 2015 nas rodovias brasileiras, gastou o dobro com acidentes nas rodovias federais, ou seja, investiu R$ 5,9 bilhões e gastou mais de R$ 11 bilhões com acidentes. O estudo não levantou os acidentes em vias estaduais. Se para adequar a malha rodoviária brasileira construindo ou duplicando trechos, restaurando e corrigindo problemas críticos deveriam ser investidos R$ 292,5 bilhões, estamos bem longe do ideal comparando com o que foi investido em 2015. Os números de 2016 estão bem semelhantes. Como se não bastasse investir apenas 2% do que realmente seria necessário, ano após ano o investimento diminui. Projetou-se um valor, mas o que realmente foi pago mostra uma queda preocupante: 2011- R$ 11,2 bi; 2012- R$ 9,3 bi; 2013- R$ 8,3 bi; 2014- R$ 9 bi (ano da Copa); 2015- R$ 5,9 bi. E nem precisa dizer como os pontos críticos tomam caminho inverso, aumentando a cada novo estudo…
Para o bolso do usuário, a realidade vem cobrando seus custos. Devido às condições das vias, o estudo estima que as transportadoras gastem R$ 2,3 bilhões a mais. Considera também que com a queima de mais 700 milhões de litros de diesel além do necessário, devido frenagens e acelerações, o Planeta receberá mais 2,07 megatoneladas de CO2.
Sei que o leitor deve ficar meio “baratinado” com tantos números reais, assustadores e preocupantes, mas nesse momento passa um filme em minha cabeça, redesenhando tudo o que constatei em milhares de quilômetros que percorri em muitos dos trechos incluídos no estudo. Sei que parecem números chocantes para quem não está muito habituado e que, por estar tão envolvido em problemas gerados por eles, nem se dê conta do quanto isso é, infelizmente, verdadeiro. Por isso, continuaremos numa segunda parte. Até lá!
Fonte: Marcos Aurélio da Costa http://www.logisticadescomplicada.com/

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