A mídia vem noticiando ultimamente vários acidentes
assustadores nas estradas brasileiras. Várias mortes, várias vítimas com
ferimentos e várias pessoas que jamais esquecerão as cenas trágicas que
testemunharam quando das explosões de caminhões-tanque, após um tombamento ou
colisão, com as chamas avançando sobre tudo e sobre todos. Isso não só é
assustador como recorrente. Quais elementos estão envolvidos em tantas
ocorrências que contribuem para o medo ao pegar uma estrada no Brasil? As
exigências satisfazem o mínimo da segurança necessária ao cruzarmos com essas
“bombas-relógio”? Os condutores estão qualificados? A manutenção desses
veículos está de acordo com o perigo que representam?
Essas e várias outras perguntas surgem sempre que nos
deparamos com imagens de chamas engolindo tudo pela frente. Mas, os elementos
envolvidos em acidentes do tipo são bem mais complexos e fogem ao entendimento
geral. Aqui estão envolvidos o despreparo, a omissão, a autoridade, a ganância,
a exploração do trabalho, a droga, a falta de infraestrutura e a
irresponsabilidade de funcionários, patrões e do poder público.
Estive presente nesse mercado por alguns anos e, em outros,
rodei milhares de quilômetros por estradas brasileiras quando de minhas
consultorias acompanhando obras de infraestrutura pelo Brasil e, além daquelas
perguntas que citei, uma em especial surge primeiro que qualquer outra: “e se
fosse comigo?”
Presenciei vários acidentes em que a imprudência imperava
sobre a ação, mas um me chamou mais atenção: um condutor de um caminhão-tanque
carregado com gasolina teve uma pane de freio em uma das rodas traseiras. Ele
dirigiu alguns quilômetros superaquecendo a roda até que o fogo tomou conta do
pneu, e rodou mais uns metros até parar num posto de combustíveis para usar o
telefone. Alheio ao perigo e sem se preocupar com os curiosos que se
aproximaram sem a mínima noção do risco. Infelizmente, ele tem muitos
semelhantes.
Só esse exemplo contempla a maioria dos elementos de risco
os quais mencionei anteriormente. Bom que esse não terminou em tragédia, mas
refletiu tudo de inapropriado quanto aos conceitos de uma condução segura,
proteção de área e procedimentos em emergências sobre os quais abordei em artigos
anteriores que falavam dos riscos do transporte de produtos perigosos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 1,25 milhão
de pessoas no mundo morrem por ano em acidentes de trânsito. Se considerarmos
que uma morte já seria um absurdo, no Brasil são mais de 47 mil mortes e mais
de 200 mil pessoas hospitalizadas por ano. Não temos, sequer, levantamentos
concretos, pois os números do Ministério da Saúde apontam “apenas” 43 mil
mortes e não se tem um acompanhamento sobre a alta hospitalar. Controverso
também, quando comparamos os números do Seguro de Danos Pessoais Causados por
Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), de 2015, que apontam 42.500
indenizações por morte e, pasmem, 515.750 por invalidez. E, mesmo com o que
conhecemos sobre a demora dos processos judiciais no Brasil e sobre a investida
da corrupção na área do DPVAT, sabemos que esses números não refletem uma
realidade e podem ser ainda mais graves do que aparentam quanto às vítimas
fatais.
Não se têm números precisos sobre a situação em particular
desse tipo de transporte, o que se sabe mesmo é que as estradas já oferecem
perigo suficiente para causar mortes; que tem muito departamento de manutenção
dizendo ao motorista que consertará o sistema de freio na “próxima” viagem; muito
dono de caminhão preocupado com o valor do frete e sem dinheiro para a
manutenção e qualificação de seus motoristas, outros preocupados em aumentar
seus lucros; muitos motoristas sem juízo conduzindo cargas perigosas e muitos
transeuntes sem a noção dos riscos aos quais estão submetidos por simplesmente
cruzarem com essa série de elementos envolvidos numa tarefa que, em grande
parte, deveria ser bem diferente.
A paz na estrada se constrói bem antes de pegar o volante;
antes mesmo de construir a estrada, o veículo e o profissional que o conduzirá.
Fonte: by Marcos Aurélio da Costa in Gestão, Logística, Transportes em http://www.logisticadescomplicada.com
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