sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Arte de se fazer ajudar


O verdadeiro chefe não é aquele que faz tudo por si mesmo, mas aquele que sabe fazer-se ajudar.
O chefe não pode fazer tudo. Está situado para ver ao longe e de cima. Deve consagrar-se à meditação, à elaboração de planos. Se perde no pormenor, diminui-se, encurta horizontes, cerceia à amplitude da sua visão tudo o que sirva à elaboração dos fins intermediários. A profundeza da meditação mal se coaduna com a minúcia das deduções de segunda ordem.
Para Lyautey, o comando exerce-se de cima para baixo em todos os escalões da execução. Executar é por seu turno comandar. Ao inverso, segue-se que comandar é delegar, em parte, os seus poderes de chefe; é ceder aos seus subordinados o seu terreno de comando. Concepção concreta e viva, não de um chefe e multidão, mas dum chefe e chefes. Uma pirâmide de chefes!
O que importa para o chefe é conservar livre o espírito para dominar a ação, pelo pensamento e pela decisão.
"Quantas vezes, diz M. de Tarde, temos ouvido Lyautey levantar-se, em termos violentos, contra essa falsa mística do chefe que faz tudo por si mesmo, do chefe que só em si confia, do chefe que trabalha dezoito horas diárias. Este pretenso chefe, dizia ele, não sabe mandar: - Se ele próprio faz tudo, é porque não sabe ensinar os outros a trabalhar e a. ajudá-lo; - se apenas confia em si, é que não sabe despertar confiança nos outros, designando-lhes a sua tarefa; - se trabalha dezoito horas por dia, é que não sabe ocupar as suas horas". "Um chefe, dizia ainda, não está nunca absorvido; tem sempre tempo".
O chefe não se ocupa dos pormenores aos quais podem dedicar-se tão bem como ele e melhor do que ele os agentes subalternos, reservando-se para o estudo dos problemas gerais que só ele pode resolver. Coíba-se portanto de julgar que tal coisa está mal feita, se não lhe tocou. Longe de se agastar à medida que as responsabilidades crescem, trata de assegurar a liberdade de pensamento e de ação mais necessária agora ao exame dos fins supremos; e porque não lhe resta nunca muito tempo nem forças para as questões que solicitam constantemente a sua atenção pessoal, desembaraça-se de toda a ocupação que não é estritamente obrigado a realizar por si próprio. Assim, isolado, não produz, mas faz tudo, na condição de "nada fazer, mas de tudo mandar fazer".
A marca de um verdadeiro chefe é que ele sabe descobrir colaboradores e utilizá-los pelo melhor das suas aptidões. Pode até sustentar-se que quanto mais hábil é o chefe nesta arte tanto mais destinado está a subir, porque é nisso que se nota muitas vezes a diferença dos chefes: este sabe tirar dos outros o que aquele seu vizinho não chegará a obter.
Evidentemente, não há um chefe ideal nem colaboradores perfeitos. É preciso tomar as pessoas tais como são. É claro que aquelas cujo passivo é mais importante que o ativo podem tornar-se prejudiciais ao bem comum; reconhece-se, por isso, que é um ato não só de prudência mas até de caridade superior orientá-los para outros postos. Quanto aos que possuem um ativo superior ao passivo, nada desperdiçaremos no seu aperfeiçoamento.
O erro do chefe estaria em preferir atuar por si próprio a confiar nos seus colaboradores, receando que o encargo fosse mal desempenhado. Por um lado, o colaborador assim colocado à margem perde toda a iniciativa e todo o gosto da ação; por outro lado, não podendo dar-se a tudo, concentra seus cuidados num pormenor e acaba por perder de vista o conjunto de que tem a responsabilidade.
Um chefe deve aceitar que a tarefa por ele dirigida seja menos bem executada do que se fosse ele a realizá-la; mas dia virá - e mais cedo talvez do que pensa - em que seus colaboradores, entregando-se ao trabalho que lhes foi confiado, tomar-se-ão de brios e realizá-los-ão melhor, como ele não seria capaz.
O verdadeiro chefe tenta, por meio de contato pessoal, de troca de impressões num plano amigável, educar os seus subordinados e fazê-los comungar nas suas idéias e diretrizes. Ao cabo de certo tempo, verificará que os seus chefes assim formados adquiriram pouco e pouco os seus reflexos e poderá multiplicar a sua influência, reservando para si o tempo de pensar sem desprezar por isso o contato com a realidade.
 O chefe cioso do seu poder mata almas de chefes entre os seus colaboradores.
Mandando fazer, multiplica-se; ingerindo-se nos pormenores, em vez dos responsáveis que se afastam, perde-se tempo e autoridade. Pensar-se que se faz "melhor" é o melhor inimigo do bem.
O chefe que quer fazer tudo por si próprio e não soube rodear-se de colaboradores capazes de supri-lo, correrá o risco de ver a sua obra inacabada e os seus serviços desorientados no dia em que pela continuação da doença ou de uma causa qualquer tiver de ausentar-se por lapso de tempo prolongado.
Nenhum chefe deve fazer aquilo que um súbdito pode executar tão bem como ele, a fim de ficar livre para as coisas que só ele é capaz de fazer.
A autoridade só é bem exercida quando o poder que a detém não carece de dar ordens senão a um pequeno número de homens que oferecem confiança e que são bem conhecidos.
Há na vida duas categorias de seres: aqueles que absorvem, os parasitas; aqueles que irradiam, o escol. Rodeei-me sempre de irradiantes, que decuplicam a minha energia.
Aqueles que receiam as responsabilidades, que não têm vontade, que recuam perante os obstáculos, que procuram antes de tudo estar a coberto, não podem ser chefes.
Aqueles que são incapazes de se decidir, que hesitam sempre, adiam para mais tarde, mudam constantemente de parecer e de decisão, não podem ser chefes.
Mas há homens, mais do que se julga, que são capazes de subir. As nulidades não são tão numerosas como se pretende. Se recusar valor a certos indivíduos, é muitas vezes porque não se soube descobri-lo neles.
À volta do verdadeiro chefe, encontreis sempre a equipe, o grupo de especialistas fiéis, competentes, aos quais ele deixa plena liberdade, porque sabe que farão em todas as circunstâncias o que humanamente é possível fazer.
Torna-se necessário não só escolher os chefes, mas também escolher o momento em que hão de ser nomeados. Se a promoção se dá muito cedo, é perigoso, porque pode o indivíduo não estar à altura do seu cargo, sucumbir sob a responsabilidade com que não é capaz de arcar ou recorrer a expedientes que prejudiquem o bom andamento dos negócios. Se a promoção se dá muito tarde, pode ter-se um chefe que perdeu toda a energia, toda a iniciativa, um chefe que não possui o expediente do homem novo que se lança vitoriosamente à conquista de novos encargos, de novas responsabilidades. 
O chefe que conhece o seu múnus não absorve o poder. Suscita-o e multiplica-o. "Comandar é criar comando; é fazer germinar nos tecidos do organismo... estas cédulas vivas: os chefes".
Uma hora de colaboração sobre um ponto concreto concorre mais para a educação de um grupo do que uma avalanche de notas de serviço ou de apelos à ordem.
Evitai repreender um chefe de serviço diante de terceira pessoa; mas evitai sobretudo fazer-lhes observações à frente de um dos seus subordinados, senão desejais destruir a autoridade e semear a desordem no vosso campo.
Muitos chefes esquecem de respeitar a competência de seus súbditos.
De certo, quando a casa está a arder, extingue-se o fogo antes que chegue a levantar labareda! É um dever intervir diretamente quando a coisa "arde", mas então se torna indispensável avisar imediatamente os intermediários, aqueles por cima de quem "se saltou", porque se trata de uma ingerência direta no seu domínio. Não procedendo deste modo, tais intermediários não mais se podem sentir responsáveis, visto que se alteram as suas disposições sem os consultar e sem os orientar. É arrebatar-lhes de uma só vez todo o prazer do trabalho e diminuir-lhes a autoridade sobre seus subordinados.
Seja qual for a natureza da indisposição moral que possais recear em vossos colaboradores, encontrareis excelente remédio preventivo no bom humor. recomendo "trabalhar em beleza"; acrescentarei que é preciso também "trabalhar em alegria".

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