Conhecimento dos líderes
A arte de conduzir homens é difícil. Primeiramente, porque depende dos dons naturais desigualmente repartidos, mas também porque as leis psicológicas que estão na base das relações entre chefes e subordinados são muito pouco conhecidas.
Certo homem experimentado que, já idoso, chegou rapidamente a dirigir com êxito uma indústria, empregando numeroso pessoal, respondia aos amigos que se admiravam de tão pronto triunfo: "Com efeito, eu não conhecia as máquinas, mas conhecia os homens.
Antes de tudo, há que proceder à avaliação das pessoas, como de uma casa, para ver o que valem.
Conhecer a sua profissão é bom, e pode bastar para o artista que trabalha isolado; mas o chefe por definição é aquele que comanda outros homens, e o conhecimento dos homens que tem de dirigir é-lhe tão necessário como o conhecimento da missão para a qual lhe compete orientá-los.
O ideal de um chefe consiste em colocar cada qual em seu lugar:
Um homem que se encontra perante uma missão que o ultrapassa sente-se ridículo e incapaz; um homem que está no lugar que lhe convém parece sempre inteligente.
Nem sempre é fácil encontrar para cada pessoa o trabalho que lhe convém; mas, sabe-se por experiência que basta por vezes uma mudança, aparentemente insignificante, para fazer de um mau operário um bom operário.
Ao chefe compete conhecer seus homens para estar à altura de adaptar as suas ordens à capacidade de cada um, deixando àqueles que o merecem muita iniciativa, tendo mais debaixo de mão aqueles que não saberiam agir sozinhos, usando uma escala que vai desde a injunção breve até à persuasão subtil. Certos chefes são tão inábeis que, quando falam, os seus súbditos têm a tentação de fazer o contrário do que lhes foi ordenado.
Um indivíduo qualificado de mau por um chefe pode ser excelente para outro, unicamente porque o último soube captá-lo, ao passo que o primeiro não o tinha compreendido.
Não deve considerar-se ninguém, facilmente, como incapaz. Há muito menos incapazes do que geralmente se julga; há sobretudo indivíduos mal utilizados, aos quais não se deu a função que convinha.
Um grupo, seja qual for, não possui coesão senão quando os membros não só se conhecem entre si, mas também conhecem o seu chefe e sabem que são conhecidos por ele; o ser humano tem necessidade de se sentir conhecido, compreendido, estimado e apreciado para se entregar totalmente à tarefa que lhe foi proposta, e será capaz de se exceder a si próprio, se sabe que seu chefe conta pessoalmente com ele para qualquer esforço que haja de realizar-se.
Todo o homem possui mais ou menos confusamente o sentido da sua dignidade humana; quer que se lhe reconheça a sua personalidade. Ser tratado como um número ou como simples rodagem de máquina determina nele um complexo de inferioridade que procurará contrabalançar pela indiferença, pela revolta ou pelo desprezo.
O chefe deve dar a cada um a impressão de que lhe reconhece uma individualidade própria, que o não confunde com os outros, que o distingue como tendo existência e valores especiais no meio da multidão dos seus semelhantes.
Este conhecimento profundo constitui ao mesmo tempo para o chefe a maior habilidade e a fonte do maior poder: é o segredo dos ilustres condutores de homens.
Um chefe, sempre que pode, chama aos seus homens pelos seus nomes. Não esquece que o nome é para aquele que o usa a palavra mais suave e a mais importante de todo o vocabulário.
O conhecimento dos homens permite apreciar com exatidão o moral de um grupo e, determinar o que se pode exigir-lhe em dado momento sem correr o risco de provocar a confusão. É esse conhecimento que gera o sentimento do que se chama "o praticável", além do qual a disciplina se rompe.
Nem todo o chefe, que é mais ou menos um educador, pode exercer uma influência feliz a não ser que seja também perspicaz para adivinhar as necessidades, as aptidões, os gostos, os caracteres, os reflexos dos seus homens. O conhecimento do coração humano não basta; é necessário possuir o dom de adivinhar o que vai na alma daqueles cujo encargo nos está confiado.
Para conhecer bem os homens, o chefe deve abster-se de simplificações extremas. O ser humano nem sempre é racional e simples. Tem tendências múltiplas que se compensam e equilibram umas com as outras, quando submetidas a variações mais ou menos frequentes, segundo o temperamento, o caráter, a saúde, o meio que o rodeia, os acontecimentos que o afetam.
Conhecer, etimologicamente, é nascer com, viver com, sentir com, e não há verdadeiro conhecimento senão na medida em que se simpatiza se partilha dos sofrimentos e das dificuldades de cada um, se sabe tomar o seu lugar.
Um homem inquieto procura sempre a quem confiar o objeto das suas inquietações, e mais vale que a confidência seja recolhida pelo seu chefe, que saberá corrigir o erro ou testemunhar simpatia. Do outro modo, o homem é tentado a pedir assistência a um ignorante ou a um irresponsável.
O chefe deve esforçar-se por ficar em contacto com os seus subordinados o que constituirá sempre para ele ocasião de observações fecundas, porque poderá assim surpreender ao vivo as mais espontâneas reações ao mesmo tempo que poderá destruir a timidez que paralisa e provocar confidências que tranqüilizam.
Quando vos dirigis a um homem, lembrai-vos de que não falais a um ser com lógica, mas a um ser com emoção.
O homem que não tem o instinto de surpreender o que se passa na alma de seus súbditos pode ser um gênio em outro aspecto, nunca será porém um verdadeiro chefe.
O homem que se lamenta não exige necessariamente que se lhe dê satisfação: deseja, sobretudo ser escutado com interesse e provocar uma decisão, seja em que sentido for.
Para apreciar os seus homens, o chefe deve cultivar em si, por causa deles, uma disposição acolhedora, porque os defeitos são muitas vezes mais aparentes do que as qualidades. Aliás, a importância de um defeito não poderia ser cifrada em valor absoluto, porque depende essencialmente das qualidades que se lhe contrapõem e da natureza das funções confiadas ao interessado.
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